Home

 

 

 

 

 

Harvey Pekar

Harvey Pekar (1939 – 2010) foi um argumentista de comics underground norte-americano, também crítico de Jazz. O seu trabalho mais conhecido é a longa série autobiográfica American Splendor, que deu origem ao filme de 2003 com o mesmo nome.

American Splendor foi publicado ao longo de mais de 15 anos e teve desenhos dos mais importantes desenhadores norte-americanos, como Robert Crumb e Joe Sacco, entre inúmeros outros. Na série, Pekar descreve o seu quotidiano de forma hiper-realista, introduzindo-lhe os personagens e as situações com uma crueza e acuidade tocantes (inspirava-se na escrita mais pessoal e crua de Henry Miller e Jack Kerouac, como reconhecia), descrevendo as conversas – as falas!-, as doenças, as anedotas ou os dramas. Pekar conta (com frequência nas histórias) como os colegas de trabalho ou os amigos o interpelavam na rua, contrariando uma ou outra conversa que ele teria descrito nas histórias, ou abordando-o, perguntando-lhe pela doença da esposa (a história do linfoma da terceira mulher foi largamente detalhada na novela gráfica Our Cancer Year).

Pekar descreveu American Splendor como
“autobiography written as it's happening. The theme is about staying alive, getting a job, finding a mate, having a place to live, finding a creative outlet. Life is a war of attrition. You have to stay active on all fronts. It's one thing after another. I've tried to control a chaotic universe. And it's a losing battle. But I can't let go. I've tried, but I can't” * .

Os primeiros trabalhos como argumentista nasceram no início dos anos 70 da amizade com o “papa dos underground comics”, Robert Crumb, com quem partilhava a irreverência, o humor e um intervencionismo social provocador (e também a paixão pelo Jazz). Mas inúmeros outros autores socorreram-se dessa criatividade e inquietude política e social incontida como argumentista de Pekar, ao longo dos anos.

Ao longo da atribulada vida, Harvey Pekar foi empregado de escritório, caixa de um talho ou empregado de mesa num café, ao mesmo tempo que escrevia os argumentos das histórias ou críticas de Jazz. Pekar, que era um amante de Jazz, foi contactado por Ira Gitler para fazer crítica de discos na Jazz Review em 1959, tendo mais tarde escrito também na Down Beat, JazzTimes, The Village Voice e The Austin Chronicle. O Jazz, opiniões, a relação com os músicos e o meio, passam também pelas suas histórias.  

A sua vida peculiar, a sua arte e as suas ideias políticas (sendo judeu, ele opunha-se militantemente à política “colonialista” de Israel) tornaram-no um personagem mediático, tendo sido um dos convidados no popular programa de televisão Late Show with David Letterman (David Letterman, com quem haveria de brigar em directo), ou num dos episódios de Anthony Bourdain: No Reservations.

Uma adaptação de American Splendor foi feita para filme em 2003, dirigida por Robert Pulcini e Shari Springer Berman, e tendo como protagonista Paul Giamatti na figura de Harvey Pekar; contando com aparições de Pekar, a sua mulher Joyce, a filha Danielle e o colega Toby Radloff. American Splendor ganhou o Grand Jury Prize for Dramatic Film no Sundance Film Festival de 2003 e o FIPRESCI do Festival de Cannes do mesmo ano, entre outros prémios.

Harvey Pekar foi sepultado em Cleveland, na sua terra natal. Na sua lápide está inscrito: “Life is about women, gigs, an' bein' creative”.

As pranchas que se exibem foram retiradas do álbum Best of American Splendor, de 2005.

Best of American Splendor, capa, Harvey Pekar e outros, 2005
“My Career Begins” 1994 in Best of American Splendor, pgs. 121-122, Harvey Pekar e Joe Sacco, 1994
“A Story About A Review” in Best of American Splendor, pgs 123-124, Harvey Pekar e Joe Sacco, 1993
“My Mentor”, in Best of American Splendor, pgs. 119-120, Harvey Pekar e Joe Sacco, 1993
© by Harvey Parker LLC


* “uma autobiografia escrita enquanto está a acontecer. O tema é permanecer vivo, conseguir um emprego, encontrar uma companheira, ter um lugar para morar, encontrar uma saída criativa. A vida é uma guerra de desgaste. Tens de te manter activo em todas as frentes. É uma coisa depois da outra. Eu tentei controlar um universo caótico e é uma batalha perdida. Mas eu não posso deixar passar. Já tentei, mas não consigo”.(Tradução livre. LS)